terça-feira, 26 de agosto de 2008
Hatha Yoga, antes e agora!
Yoga antes e agora. Por Keli Parayana das.
Estamos prontos a definir uma tradição milenar que passou por inúmeras e profundas transformações e adaptações, no entanto Yoga se define como sendo uma ciência de integração de corpo, mente e espírito; e conta com mais de cinco mil anos de história.
A palavra yoga, em sânscrito pode ser remetida a sua raiz verbal Yug, que significa raiz, onde tudo se concentra para um novo recomeço, união, integração, micro e macro cosmos.
Os yoga sutras de Patanjali se tornaram uns dos maiores ícones no estudo de Yoga, e neles se define Yoga como sendo a aptidão de dirigir a mente exclusivamente para o objeto e sustentá-la naquela direção sem distração. Importante é que todos saibam disto, mas não deveríamos cair no erro de imaginar que o atual contexto de uma sala de aulas tenha algo a ver com o método de ensino daquela época.
Na realidade as aulas de yoga a cinco mil anos atrás eram bem diferentes do que vemos hoje em dia. A mudança de estrutura ocorrera nas primeiras décadas do 1900, quando em Bombaim, Índia, com intuito de resgatar o interesse popular pela cultura própria, em oposição à repressão inglesa, se formatou as aulas de yoga como se apresentam hoje.
Agora abertas ao público leigo, buscando atraí-los pelos resultados das práticas desta tradição. Num local público e com participação semanal, com horários fixos, sem levar em conta outras questões, que como em outras épocas, seria restrito a uma platéia seleta e reduzida; a maior parte ascetas renunciantes com intuito estrito e determinado, fixados na auto-realização.
Aqueles yoguis se dedicavam a longos anos de treinamento rigoroso, que incluiriam muitas horas de recolhimento às práticas de asanas, observação e meditação, com intenções de elevar, alterar o estado da consciência. Em geral com votos de pobreza e celibato, estes praticantes se mantinham fixos no seu objetivo de liberação espiritual, com o apoio de uma cultura local que enfatizava a entrega ao Guru ou mestre, que o instruiria nos mais diversos temas. E mesmo as práticas de asanas eram desenvolvidas seguindo o que o Guru faria. Estas asanas nunca estariam desligadas ou isoladas do cultivo de consciência espiritual, longe do caminho espiritual.
Por outro lado a mudança do formato das aulas de yoga contemporâneo, veio para fazer uma ponte entre esta ciência maravilhosa e o público em geral, que poderia se beneficiar em termos de saúde, e ao mesmo tempo valorizar novamente sua tradição.
A prática de Hatha Yoga era mantida em secreto, por ascetas reclusos, que quanto mais se aprofundavam no estudo, mais difícil se tornaria o encontro com o grande público.
Assim sendo nunca haveria neles a idéia de uma grande organização mundial de Yoga, muito pelo contrário, o ingresso a práticas ocultas, era só para os iniciados, avançados nas práticas ocultas.
Devido a este motivo, muitas escolas de Hatha contam com pouca idade, pois os formatos organizacionais foram mudando até o que vemos hoje.
Com o crescimento do novo formato da prática de Yoga, os praticantes poderiam manter relacionamentos familiares e emprego fixo, somente se dirigindo à sala de aulas algumas vezes por semana, se ocupar na prática de asanas e meditação, e depois do horário preestabelecido, retornar ao aconchego do lar. Esta nova estrutura fora por demais benéfica para as populações leigas, que utilizaram seu tempo livre para tal prática.
E Yoga passou a ser uma prática semanal, livre de compromisso com conduta pessoal ou mesmo ética, tão exaltada por Patanjali no seu Yoga Sutra.
Podemos afirmar que as posturas de Yoga são como posturas perante a vida! E a vida vai mudando, desta maneira essas mudanças na estrutura tradicional se tornaram algo saudável para o Yoga.
Claro que não devemos ser ingênuos o suficiente como para não ver os perigos de uma mudança nas tradições. O objetivo essencial deveria ser mantido, para poder expandir, mas sem perder o cerne. A tradicional prática de yoga hoje pode ser confundida com meras práticas de asanas, exercícios físicos, sem menção alguma à espiritualidade, mais isto só acontecera por um descuidado crescimento, tomando proporções empresariais, encarando yoga como negócio lucrativo, yoga na moda, yoga nas academias de musculação, como mais uma prática de malhação, e o culto ao professor/a como sendo uma “estrela guia”. Assim se chegou também a competições, eficácia e sucesso trazidos para o campo de yoga.
Esta abordagem simplista enfatiza o aperfeiçoamento da postura final, ao invés de se concentrar no processo de transformação que ocorre durante o caminho do praticante até a asana. Que seria o objetivo de Hatha Yoga, como integração do ser humano, e numa visão superior, mais experiente, integração com o Todo. Assim sendo yoga nunca seria apenas uma pratica de “posturas”, livre de uma abordagem filosófica.
Mais uma definição para yoga seria que é subjetivo, uma vez que a execução da mesma asana, pode nos levar a diferentes estágios, em diferentes momentos, tão só mudando algumas situações, e mesmo porque nós mudamos nossos pontos de vista.
Yoga é uma tradição de espiritualidade, de crescimento da consciência até a compreensão da auto-realização.
Namaste!
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